É difícil escutar bem. Não só por auto-suficiência, mas ainda por estarmos tão metidos nas próprias coisas, que acabamos caindo no monólogo. Só nos ouvimos a nós mesmos.
Perguntaram a Demóstenes qual a razão de os homens terem dois ouvidos e só uma língua, ao que o famoso orador grego respondeu:
- Porque devemos escutar mais do que falar. Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual Deus nos fez assim. Não obstante, o homem, com freqüência, viola a ordem natural das coisas.
Tanto é assim que Oscar Wilde fez certa ocasião a experiência. Ao chegar atrasado a uma reunião social, desculpou-se com a anfitriã nestes termos:
- Queira perdoar o meu atraso, mas acontece que acabei de matar a minha sogra e tive de enterrá-la. Ao que a dona da casa respondeu:
- Oh, não se preocupe. O importante é que o senhor tenha vindo.
Dentro desta incapacidade geral para escutar, devemos ressaltar como ainda mais pronunciada e grave, a incapacidade para escutar aquelas coisas que deveriam servir-nos para o conhecimento próprio: as críticas, bem-intencionadas, e sobretudo os conselhos dos que nos querem bem.
Ficamos presos ao nosso mundo interior, melhor, a um falso mundo interior. Há os que pensam, mas pensam errado, não por não se analisarem, mas porque caem no excesso de imaginação, na auto-contemplação ou na auto-compaixão. São os homens dos sonhos ou dos ressentimentos, que parecem estar sempre chegando da lua ou vivem falando das injustiças que os outros lhes fazem.
Esses homens falsa e obsessivamente interiorizados não chegam sequer a ouvir o que os outros lhes têm a dizer. Ou, se o fazem, escutam tudo acomodado às suas categorias subjetivas e rarefeitas.
Este egocentrismo limita o conhecimento próprio. Pessoas ensimesmadas perdem o valioso contributo que lhes podia vir de fora, e isolam-se por detrás de uma imagem ideal de si próprias que as protege, ao mesmo tempo, que as esteriliza.
Autor: Malvar Fonseca
Livro Conhecer-se
Amada vim te visitar e desejar um fim de semana de muita luz. Abraços fraternos.
ResponderExcluir"Senhor, permita-me que, quando alguém falar comigo, ao se afastar de minha presença tenha se tornado uma pessoa melhor."
Madre Teresa de Calcutar