quinta-feira, 9 de junho de 2011

Antes Que Eles Cresçam

Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maneira que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil.
E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça... Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes e cabelos longos, soltos. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com uniforme de sua geração.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros. Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.

Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas.
Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao shopping, não lhes demos suficientes hamburgueres e refrigerantes, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhos.
Sim havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.

Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.

Affonso Romano de Sant'Anna

14 comentários:

  1. Que texto!!!
    Adorei mesmo!!!
    Acho que a diferença entre pais e avôs é que os avô são pais pela segunda vez; portanto, com mais experiência.

    Valeu, Julimar!!!
    Beijo

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  2. OI Jorge
    é sempre um prazer ter voce aqui no meu cantinho
    Um forte abraço e tenha um dia muito iluminado
    Julimar

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  3. Sniff... me bateu uma saudadinha dos meus rebentos ainda pequenos!!!

    Mas, logo serei avó, e vou reeditar aquele instinto de amar incondicionalmente...

    Gostei de ser seguida por você, seu cantinho é uma delícia... voltarei...

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  4. Oi Zininha
    vai ser um prazer compartilharmos deste pedacinho onde podemos colocar as nossas emoções, nossos anseios, enfim onde podemos ser autenticos e leais com nossos sentimentos.
    A minha menina está crescendo e virando uma moça linda, e as coisas realmente parece que acontece do dia para noite, por isso é necessário fazermos algo mais, antes que levante voo.
    Um grande beijo e espero te-la sempre neste espaço
    Julimar

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  5. Oi Paulo
    é um prazer te-lo neste cantinho, espero ve-lo sempre por aqui
    um grande abraço
    Julimar

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  6. Sabe não tenho filhos mas posso contar um segredo...rs..tenho dois sobrinhos que são a alegria da casa e meus pais babam por eles...rs..não só eles todos nós tb....rs.
    Mas comentando sobre o texto, ser pai ou mãe é uma dádiva de DEUS, um presente assim vejo...rs..ser filho é uma horna...estamos ligados por laços espirituais e sanguineos, por isso eu sempre agradeço pelos meus pais por eu ter nascido nessa família. Vc me fez lembrar da frase "Nasceste no lar que precisavas.." Chico Xavier
    Devemos sempre respeitar nossos pais e nunca achar que qdo eles nos falam algo seja p/ nosso mal, são pessoa experientes que só querem nos proteger.
    Em Efésios 6:1-4, Paulo diz: "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra."
    Bjs e fica com DEUS (*_*) Jú

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  7. É bem assim e quando eles nos abandonam é hora de olhar para o lado, vero parceiro (se ele ainda estiver por ali) e retomar o namoro interrompido pelos filhos enquanto esperamos os netos a invadir nossa vida.
    beijos

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  8. Olá Julimar Murat ! Que bom que você veio me visitar. Seus espaço é maravilhoso. Passarei mais vezes por aqui.
    O belo texto que você escolheu, nos faz sentir muitas saudades de outrora. E é por isso, sabendo o quanto inexorável que é o tempo, temos que aproveitá-lo ao máximo, e nos doar, principalmente em se tratando de filhos, cuja história será reeditada por ocasião dos netos.
    Linda suas tulipas charmosas e elegantes !
    Que Deus a abençoe iluminando seus caminhos.
    Bjs.
    Regina Goulart

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  9. Julimar,
    Obrigado pela visita ao meu blog e pelo carinho das suas palavras. Estou aqui retribuindo a visita e adorando seu cantinho, e já vou colocar em "acompanhar". Gostei do que disse de buscar as verdades, mesmo sabendo que não teremos todas as respostas (somos eternos aprendizes), temos mais chances de encontrar o equilíbrio e o amadurecimento, e de nos tornarmos mais integrados, coerentes e humanos.
    Quanto aos filhos disse bem o Affonso Romano de Sant'Anna, realmente um belo texto.
    Lembrei de dois outros interessantes, talvez conheça: A VOCÊ MEU FILHO - Artur da Távola, e OLHA O OLHO DA MENINA - Marisa Prado.
    Nossos filhos aqui nos fizeram avós muito cedo, e os netos e netas já estão na adolescência, uma deliciosa renovação, e vamos amando e torcendo por eles. Apareça sempre... muitas alegrias. ney/

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  10. Oi Julli,hoje ainda pensei muito neste tema avós ,que é a experiencia que vivo atualmente e me agarro com toda a força do mundo para me sair melhor do que da primeira vez.
    Como diz o Jorge ,a gente tem a segunda chance e eu precisava demais desta revanche ,pois não fui muito bem sucedida na primeira.
    Hoje bem mais centrada ,amadurecida e esclarecida ,tento recuperar um pouco do tempo perdido na recuperação e construção de um novo ser.
    Esta chance nos dá este paizinho de amor ,ainda nesta encarnação ,e fico muito feliz por voltar com a mala menos pesada por alguns documentos que agora como avó posso quitar.
    Obrigada pela postagem que veio de encontro aos meus pensamentos de hoje.
    Muita luz pra voce e pra todos seus seguidores ou não .
    bjs

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  11. Obrigado a todos pela visita
    Vai um prazer compartilharmos de momentos tão maravilhosos e podermos trocar idéias e experiências.
    Muita luz no caminho de cada um de voces, muita paz e sabedoria para lutarmos e enfim vencermos na busca dos nossos ideais.
    Um grande beijo
    Julimar

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  12. Oi! Vim conhecer seu blog e agradecer por seguir o Plenitude. Fico muito honrada!
    Adorei seu perfil, conhecer-se à si mesmo é um grande passo em direção à evolução da alma.

    E, gostaria de deixar aqui pra vc, parte do livro "O Profeta" quando ele fala dos filhos, diz assim:

    "Vossos filhos não são vossos filhos.
    São os filhos e as filhas do desejo da Vida por si mesma.
    Eles vêm através de vós, mas não de vós,
    E apesar de estarem convosco, não pertencem a vós.
    Podeis dar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
    Porque eles têm seus próprios pensamentos.
    Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
    Pois suas almas vivem na casa do amanhã, a qual vós não podeis visitar, nem mesmo em vossos sonhos.
    Podeis esforçar-vos em ser como eles, mas não tentai fazê-los como vós.
    Pois a vida não volta para atrás, nem permanece no dia de ontem.
    Sois os arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados.
    O arqueiro vê o alvo no caminho do infinito, e Ele vos dobra com Seu poder para que Suas flechas possam ir longe e velozes.
    Deixai que o Arqueiro vos curve com alegria;
    Pois assim como Ele ama a flecha que voa, Ele também ama o arco que é estável."

    Khalil Gibran

    Acho lindo e verdadeiro.

    Bjs

    manu

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  13. Obrigada Manu
    muito lindo texto, faz-nos refletir a nossa responsabilidade perante os filhos, a vida e ao Pai. "A melhor forma de manter o amor é dar-lhe asas..."
    Um dia iluminado
    bjs
    Julimar

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"... que vosso amor cresça cada
vez mais no pleno conhecimento e
em todo o discernimento." - Paulo
(Filipenses. 1:9.)

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