quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A lição das Gaivotas


Um enorme transatlântico partiu de movimentado porto rumo a outro continente. Do convés, os passageiros acenavam lenços e agitavam mãos, em manifestações de adeuses. No porto, muitas pessoas acenavam igualmente e lançavam beijos ao ar, num misto de antecipada saudade e carinho.
Pouco depois, os que se encontravam no convés, ainda observando os que permaneciam em terra, puderam constatar uma nuvem de gaivotas prateadas acompanhando o imenso navio. O seu voo atraiu a atenção de quase todos, tanto pela algazarra que promoviam, quanto pelo capricho de suas voltas, ao redor da enorme máquina concebida pelo homem. Passada uma meia hora de viagem, o tempo se tornou ameaçador.

Ondas de espuma se levantavam ao açoitar dos ventos violentos. Esboçou-se no firmamento uma tremenda tempestade. Com suas possantes máquinas, o navio cortava as vagas agitadas e parecia fazê-lo com dificuldade, dada a presença dos elementos da natureza emconvulsão. Um dos poucos viajantes que até então permanecia no tombadilho, contemplou as aves a voejar e as lastimou.
Como podiam elas, com suas asas tão débeis, lutar contra o tufão, desamparadas nos céus? Elas nada tinham além do próprio corpo para o enfrentar. Suas asas resistiriam ao vento implacável, se o possante navio, com suas máquinas que representam milhares de cavalos resistia com dificuldade ao tempo torrencial? De repente, aquele homem que estava tão compadecido das avezinhas do mar, ficou perplexo.
É que as pequenas gaivotas, estendendo as asas que Deus lhes deu, abandonaram o navio na tempestade e se ergueram acima da tormenta, passando a voar numa região serena dos ares. E a máquina, representando a ciência humana, prosseguiu na sua luta penosa para resistir à fúria dos elementos.

* * *

Em nossas vidas ocorre de forma semelhante. Quando pretendemos lutar unicamente com nossos próprios meios, encontramos o fustigar dos ventos das dificuldades atrozes, que vergastam a alma e maceram o corpo.Contudo, se utilizarmos os recursos da oração alcançaremos as possibilidades das asas das gaivotas.
Pelas asas poderosas da prece, o homem pode se elevar acima das tempestades do cotidiano e voar placidamente. Envolvidos pelas luzes da prece, alcançaremos regiões que o vendaval das paixões inferiores não alcança. Fortificados pela oração, enfrentaremos o mar agitado dos problemas, a fúria das vicissitudes, e chegaremos ao porto seguro que todos almejamos.

* * *

Quando o triunfo nos alcançar ou quando sofrermos aparentes quedas, busquemos Jesus e falemos sem palavras ao Seu coração de Mestre e Amigo.

Condutor vigilante de nossas almas, Ele assumirá o leme da frágil embarcação das nossas vidas, permitindo-nos singrar o mar agitado das nossas dores, com coragem e segurança.

A medida ideal será sempre orar antes de agir, a fim de evitar que procedamos de forma imprevidente, o que nos conduziria ao desespero e a maior soma de dores.


'A tempestade e as gaivotas', do livro 'Lendas do céu e da Terra', de Malba Tahan,


Um comentário:

  1. Juli,

    belíssimo texto. E profundo.
    Dá o que pensar pois acreditamos que devemos apenas nos ater à vida aqui na Terra, como o navio. E que cair e levantar fazem parte da rotina de vida. Mas somos como gaivotas, ainda que inconscientes de suas asas para alçar vôos mais altos e pairar acima das tormentas humanas com a Espiritualidade supérior que sabemos, está sempre conosco. Falta realmente chegarmos a ela.

    Anjo, beijo, de coração!!!!

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"... que vosso amor cresça cada
vez mais no pleno conhecimento e
em todo o discernimento." - Paulo
(Filipenses. 1:9.)

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